sexta-feira, 23 de abril de 2010

...como Se nunca Tivesse VIVIDO !

O dia já ía longo, quando  sentou na velha cadeira de madeira junto à janela baixa. Sem se inclinar no parapeito ou sequer se chegar muito ao vidro, do lugar onde se sentava via apenas o azul do céu e também uma pequena parcela do topo da folhagem das árvores. 
A vidraça estava semi-aberta e por isso o som entrava como fazendo parte do corpo que, sem querer, ondulava ao som da quase-melodia.


E ELa  semi-cerrava os olhos e fingia não saber que som ouvia. 
Eram as folhas roçantes, um som de fundo indefinível, as vozes que se misturavam até não parecerem mais vozes. As que se aproximavam. As que se afastavam.
 Os choros e os cantos, os cantos e os choros. 
Juntos. 
Até não serem mais tristeza ou alegria. Rancor ou mágoa. Ou sequer arrependimento ou culpa. 
Não eram nenhum e, contudo, todos simultaneamente.
Com os olhos semi-cerrados, imaginava uma nova língua, inventava palavras, sons e entoações. Transformava o som metálico em instrumento musical. 
Gostava de compartimentar a realidade. Ou então misturá-la até se tornar indecifrável.
As pálpebras ficaram mais pesadas como se fossem puxadas pelo sol que insistia em descair na direcção do horizonte. 



E com eles, todo o corpo que vergava mais um pouco na direção da janela.
 O sono vencia, as pálpebras desciam. 
 E ela à janela preferiu adormecer. 


Preferiu sonhar e amanhã continuar a imaginar, a inventar músicas indecifráveis da realidade que não o era. 
A menina inventava, porque não compreendia.
 Não compreendia como se podia morrer como se nunca se tivesse vivido.


* * *
Vesti Como luva... as palavras da amiga..

Nenhum comentário: