segunda-feira, 7 de abril de 2014

Outono

Ainda parece verão.

Um calor desesperado, atípico para esta ocasião. É véspera de mim... e ainda não sei o que dizer.
Nunca sei o que dizer.

Mas na minha mania de engenheira louca, quando contabilizo acertos e erros.. tenho a sensação de que mais errei.
O quanto deixei de abraçar meu pai, quanto me afastei de mim mesma, como ando sozinha de amigos, como tenho andado mal humorada, quantas vezes não consigo dar a atenção que minha filha merece.. e por aí se estende uma lista...
De quem está prestes a fazer aniversário, e tem o hábito de se reavaliar com mais intensidade nesta data.

Engraçado... que não consigo pensar ou ver os acertos hoje.
Sempre fui perfeccionista... sempre busquei ideais com exaustão.
Talvez por isto, na minha lista hoje, tem muitos nãos... poucos acertos - na minha opinião.

Eu penso só na doçura e ternura da nossa pequena família.
Mas quase imediatamente sou invadida por culpa.. culpa, seguida de algum item desta lista.
Uma mãe judia... daquelas que batem a cabeça com uma frigideira... é assim que me sinto.

Eu olho pro espelho.. ele me olha de volta, frio e cruel. É verdade, não gosto nada do que vejo.
_Hoje amanheceu um dia lindo de verão... lá fora 30° _ vou dizendo pra mim _ MAS é Outono!! E é ABRIL!!

É exatamente assim que me sinto.
Do lado errado, quase ao avesso... sem forma.

***********
******************
" Eu nunca sei o que dizer. Aliás, sei. Depois que a ocasião passa. Não quero passar um outono esperando o outro. Os mortos não falam, mas leem, escutam, veem e alguns deles até escrevem. É o meu caso. E ao escrever faço o que melhor sei fazer: ponho tudo a perder. Às vezes pergunto-me onde eu estava com a cabeça quando reduzi minha vida à ponta de uma caneta. É preciso resistir à tentação de mentir. O que faço para tapar os buracos deixados por este vazio insuportável? A procrastinação é uma doença que nos mata sem qualquer pressa. Causa-mortis: atuação dispersa. E eu tenho tantas urgências, mas procuro esquecê-las, com muita frequência. Não costumo fugir das minhas responsabilidades, no entanto, tenho despriorizado muitas decisões importantes. Exceto meus tormentos, sempre inadiáveis. Não bastasse o choro pelos ontens, choro também pelos hojes, amanhãs. Choro baixo para não acordar o bairro. Três palavras me prefaciam neste momento: superioridade, separação e segredo. E não é outro o meu desejo, senão o de que elas sejam em mim como foram em ti. Não há remédio contra a atrofia de gestos. Uso focinheiras de ferro para amordaçar a fúria destes cães raivosos. Os dias têm me dado dentadas violentíssimas. E, para completar, me engolido sem mastigar. Limpo cuidadosamente os ferimentos do tempo. Alguns vão demorar para cicatrizar. Eles me ardem feito fogo fresco. Certas palavras ocultam uma ternura que nem sempre nos é dada entrever. Nunca é. Ontem escrevi até os dedos sangrarem. Não o fiz para justificar meus acertos e sim para confessar os meus erros. Cartas sem a menor pretensão de serem enviadas, como uma criança natimorta que vem ao mundo apenas para atestar o seu incontenível e entusiasmado suspiro catártico para, em seguida, fechar os olhos diante do espanto provocado no outro. Nem tanto pelas palavras... Há intenções que nasceram para ser imediatamente enterradas. Saio às ruas, dobro a esquina e, em uma violenta batida, o coração se precipita. Quero ficar a sós com estes pássaros, estas árvores, estas sombras, estes galhos. Que pousem em mim todos os sonhos que um dia alçaram voo. Deixo esta rosa rigorosamente incógnita sobre o túmulo coberto de heras, sarças e musgos. Lerás remorso.

Palavras são rosas que o vento desfolha. E é abril. Mês das cores que já não reverdecem. Logo as ruas e avenidas da memória ganharão outras matizes de lilases, nunca como as de antes. As luzes de outono pedem: deixa ir o que não serve. O fim é sempre por onde começo. Tente não reparar na ordem dos acontecimentos. As razões que nos levaram a aproximar foram as mesmas que nos levaram a distanciar. Quem sequer chega, não pode desejar ficar."
                                                                                     da Pipa , pra mim!!




terça-feira, 1 de abril de 2014

é Só o Vento...

Não é só qualquer coisa triste que chora,
Hora ou outra choramos de gratidão, de felicidade, de amor.

Achei um sinal.
É verdade, ando muito sentimental, eu sei.
E talvez isto tenha alguma coisa haver com meu aniversário chegando.

Ando assim, tentando encontrar  e Acreditar no melhor caminho.
.. que todas as coisas não precisam de um  grande porquê.... que nem tudo deve ser e / ou será pra sempre.
 Que muitas vezes aquilo deixamos pelo caminho... aqueles pedacinhos que caem do bolso enquanto distraídos seguimos.... ou todas aquelas migalhas e farelos que vc vai deixando cair sem poder evitar...
...  estas coisinhas, sem muita importância ... são aquelas capazes de mudar sua vida e vc por completo.
Num instante qualquer.

Eu andava pensando em desistir.
TOlice... desistir. Sei que Não existe esta opção...

...quando vc sente que não pertence a lugar nenhum... quando parece que não existe mais lugar pra vc no mundo???????!!!!!!!!!!!!

Perdida com as lembranças e os sonhos que eu teci.
Entre paredes listras e cores.
A casa que eu amei, cuidei, limpei incansavelmente ... Sonhei. Por tanto tempo..
Eu não consigo imaginar ... como seria...
só restou o tempo...

Sei que a vida se refaz.
Eu mesma já nasci e morri algumas vezes dentro de mim.
Sei que a vida continuaria e continua... pra todo resto.
E mesmo assim  ainda insisto nesta ridícula obsessão  romântica..
no sonho você é Essencial.
É o ar.
É a absoluta urgÊncia.
O Agora.




Mas eu não.
Mas eu sou só o vento.

Aquela ventania azul de outono.
Só o vento...
sempre isto.
...qualquer coisa que se desfaz.. Só o vento la fora...

tangendo cabelos... balançando varais... levando folhas caídas de outono...
Só o vento...