segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CArta de uma AMigA

Um dia recebi a seguinte carta, de uma amiga,
que desenhava o céu com um Pipa no ar....


Marília querida,

Aparentemente, existe um número exagerado de Monstros carrancudos por aí. 
Exercite o desapego querida. 
A desilusão nada mais é do que que a fantasia de um sonho não realizado. 
Talvez seja hora de dar um basta nestes Monstros amargos, que nos trazem perdas dolorosas e traições inacreditáveis. Solte as amuletas externas.
 Você pode andar sozinha.  
Não há atalho neste caminho, mas se esvaziar a carga pesada das lembranças vai se sentir mais leve e assim vai facilitar a viagem. Mas antes, pressione-o, preferivelmente com dureza. 
Enfrente a certeza do Não e ela te libertará. 
Aceitar a rejeição é um modo de se superar.
 Em seguida, adicione uns ingredientes isolados no tacho e desmoralize este Monstro de doce de leite. Troque-o por um de amendoim de alma mais leve e cabeça menos complicada.
.... Seja a calmaria tempestuosa da qual necessitam os velejadores, deste modo evitará que sua vida se torne um mar de lágrimas.
Como seguir? Que tal centuplicar teu valor? Como diria Mandino:
..."Um grão de trigo quando centuplicado produzirá centenas de talos."
Te abraço com ternura!


 E quase 3 anos depois me reencontrei com suas palavras e chamou minha atenção... a verdade absoluta e doce mencionada por ela... Enfrente a Dureza do Não... ela disse... e ela te libertará.
Levei a sério quando me propus a ser a Calmaria tempestuosa necessária , porque me vi descrita... porque achei tão lindo e sábio conselho.

Poucos tem a sorte.. de encontrar pessoas queridas que lhe abrem sorrisos.. e te abraçam com ternura tanta sem nunca se quer ter posto os olhos sobre você.
Eu não me arrependo de ser o que sou... eu não me arrependo de ter oferecido tanto, de ter esperado tanto... penso que devia ter amado mais, me importado menos, ter trabalhado ainda mais.

Quando me olho no espelho, fico tentando me ver ali, por trás deste rosto que não é o meu.. as vezes, meu pensamento é tão forte que quase posso ouvir sua voz... Onde foi que me parei.. que me perdi.

Ah eu sei, a beleza é um estado de espírito... é um reflexo do que há por dentro... me lembrei.

Perdemos tudo. Menos a nossa capacidade de significar. O que já era muito.
De significar e de inventar significados..
Invento pássaros, construo asas,
Desfaço o tempo.
Faço vento
Abro gaiolas
Vivo um Sonho ...
E me perco nos olhos dela... doçura minha..
Alegria minha... sonho iluminado meu!

Todos os dias!

Aprendi.
Pipa, menina dos ventos, aprendi. .. que o trigo para geminar precisa morrer...
E como é difícil ... morrer.

Guardei tuas palavras, e volto nelas com frequência... Mato a saudade, busco setindo,
Reinvento o Significado...
TE envio um beijo com ternura,
de gratidão translúcido.

Outro pedacinho do recadinho seu:


"...
Toma aqui.

Juntei teus pedaços.Eu sei que dá pra consertar.Te dou esse papel em branco e esta caneta pra você se reinventar.
Chico Buarque versejou para ti:

...Não chore ainda não, que eu tenho um violão E nós vamos cantar Felicidade aqui pode passar e ouvir E se ela for de samba há de querer ficar Seu padre toca o sino que é pra todo mundo saber Que a noite é criança, que o samba é menino Que a dor é tão velha que pode morrer Olê, olê, olê, olá Tem samba de sobra, quem sabe sambarQue entre na roda, que mostre o gingado Mas muito cuidado, não vale chorar

Não chore ainda não, que eu tenho uma razão Pra você não chorar Amiga, me perdoa, se eu insisto à toa Mas a vida é boa para quem cantar Meu pinho, toca forte que é pra todo mundo acordar Não fale da vida, nem fale da morte Tem dó da menina, não deixa chorar Olê, olê, olê, olá Tem samba de sobra, quem sabe sambar Que entre na roda, que mostre o gingado Mas muito cuidado, não vale chorar

Não chore ainda não, que eu tenho a impressão Que o samba vem aí É um samba tão imenso que eu às vezes penso Que o próprio tempo vai parar pra ouvir Luar, espere um pouco, que é pra o meu samba poder chegar Eu sei que o violão está fraco, está rouco Mas a minha voz não cansou de chamar Olê, olê, olê, olá


Cantemos. 

Estanco teu sangue.
E teu choro.

Um abraço de esperança."