segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Que Seja doce o que vier, pra Você e pra Mim...

... Foi uma doutora de alma quem disse,
que em dias feito este de sequidão sem fim,
de cantos empoeirados e gavetas vazias... em dias feito este... bom pra alma é fazer de conta!

É colocar uma estrela na ponta dos pés, uma flor nos caracóis do cabelo da filha e rodopiar... fazendo de conta ... como se voasse... flutuar...
Esquecer.

FOi a doutora que mandou! E continuou dizendo assim:

" Faz de conta que o céu tá bonito, que a saudade é pequena e que a fé é muita.
 Faz de conta que a dor foi-se embora.
Faz de conta que ama e que é amada.

Faz de conta que nada mais sangra, que o sonho não acabou e que o riso é constante.
Faz de conta que num piscar de olho a gente constrói o que a gente quiser.

Faz de conta que o amor é tanto que corre das veias e chega a sobrar.
Faz de conta que a inocência ainda existe e tá pertinho da gente.
O nome dela é Ana Beatriz!

Faz de conta que as pessoas que a gente gosta apareçam em sonho.
 Faz de conta que o fio da vida é longo e que nele cabe a eternidade.

 Faz de conta que as cantigas ocupam o lugar do choro.
Faz de conta que a gente consegue desatar os nós de marinheiro que a vida dá.
Faz de conta que não é preciso inventar.

E nesse faz de conta, a menina se fazia inteira ..."

DOutora Cris Carvalho, quem mandou! Duas dose de faz de conta, toda vez que prender o choro e sufocar um soluço.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

é Só a LuA


Vento solar e estrelas do mar ,
A terra azul da cor de meu vestido
Vento solar e estrelas do mar

Você ainda quer morar comigo ???

Se eu cantar não chore não !!
É só poesia
Eu só preciso ter você por mais um dia.
Ainda gosto de dançar, bom dia,
Como vai você?

Sol, girassol, verde vento solar
Você ainda quer morar comigo!!!

Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de meu cabelo

Se eu morrer não chore não !!!
É só a lua
É meu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua,
Como vai você?
Você vem, ou será que é tarde demais?

O seu pensamento tem a cor de meu vestido
Ou um girassol que tem a cor de meu cabelo!

Se eu morrer não chore não!

***
** Quem contar
um sonho que sonhou
não conta tudo o que encontrou
Contar um sonho é proibido

Eu sonhei
um sonho com amor
e uma janela e uma flor
...
uma fonte de água e o meu amigo
E não havia mais nada...
só nós, a luz, e mais nada...

Ali morou o amor

Amor,
Amor que trago em segredo
num sonho que não vou contar
e cada dia é mais sentido

Amor,
eu tenho amor bem escondido
num sonho que não sei contar
e guardarei sempre comigo..."

sábado, 4 de agosto de 2012

A força.

Quando dei por mim, era eu ali... nas palavras dela... descrita...
Era eu ali, Pipa.
Miséria anônima, tinha  nome e endereço.






" De humana, restara-lhe apenas a sombra — pensou ela enquanto afugentava com um ramo de Lavandas, as traças impossíveis que nasciam do ventre de uma velha poltrona.
Passava horas contemplando as infinitas tonalidades de gris que se estendiam atrás das cortinas.
No torpor dos dias, via a brasa de seu olhar se apagar em vida, sentindo que por trás daquelas paredes o mundo e tudo que nele existia começava a se transformar em um amontoado de cinzas.
Nas altas horas, se revirava entre os lençóis da cama em companhia de lembranças que lhe faziam talhes enormes na madeira cinzelada da memória.
Chegou ao absurdo de pensar que sua alma estivesse presa em outros mundos, surpreendendo-se, não raras vezes, correndo atrás de quimeras de aparência dantesca, figuras com corpo humano e duas cabeças anexas, sendo uma de homem e outra de Leão.
 Rogava à Deus, que viesse em seu auxílio.


Uma noite, recuperou-se do transe. Desatou as correntes que lhe aprisionavam no sótão da mente, deixou aquele quarto sorumbático e saiu às ruas, quase que em um estado iluminado.


 Decidiu que devia entender-se pessoalmente com Deus, pois, com o Diabo já havia colocado suas pretensões em pratos rasos, de modo que ele foi obediente e se manteve afastado.


Levantou suavemente a cabeça, deixando-se banhar pelos raios daquele sol invernal que filtravam dos vitrais do templo.
Não pensou no passado.
Todas as paredes sacras abriram os olhos de pedra para vê-la, mas ela não pareceu incomodar-se, já que os seus pés estavam assentes na terra.


 Duelos de silêncios são sangrentos — murmurou ela sem qualquer agitação nos nervos.


Uma eternidade mais tarde, vendo que Deus não respondia aos seus lamentos, compreendeu que devia deixar aquele local, antes que a falange do Divino Espírito Santo se arrependesse de ter lhe concedido o direito de escutar suas orações e a única frase que conseguiu trespassar de seus lábios desencadeasse uma hecatombe celestial.


A mulher repousou as mãos no peito e deixou o altar antes mesmo que o alguém chegasse.
Entendeu que Deus não poderia estar em um lugar onde os arcanjos se ofendiam ao menor suplício, cochichando entre eles, mormente em idiomas estrangeiros que passavam largo de serem compreendidos.


Voltou para casa derrotada, deslizou sigilosamente até a porta e antes que girasse a fechadura sentiu que uma vaporosa mão de luz pousava em suas costas.
Virou-se em câmara lenta e topou com um olhar sereno, de abandono.
Os olhos de Deus — reconheceu.


Deus levou uma das mãos ao seu coração e desejou fortemente:
— "Permita que eu entre..."
— Com uma condição — exigiu dele. A de que fique para sempre.


Ela não se deu por achada até que Deus começou a chamá-la pelo seu nome no alpendre de casa.


Foi com o folguedo de uma explosão que a bala da fé se alojou em seu coração.


Sentiu que suas pernas e braços recobravam o ânimo perdido e que a miséria anônima que lhe relegou à uma existência fantasmagórica, desaparecera como um truque de mágica que se tira da cartola da memória.


Esta manhã tornei a vê-lo. Em sonhos. Tão menino. Corria de um lado para o outro com um sorriso incansável no rosto. Rabisquei seus traços em meu caderno de anotar destinos. Era eu ali no canto. Tentando recordar os estranhos que sempre fomos.


Há algumas décadas atrás, fiz um rosário para colocar sobre o túmulo da inocência. Usei flores de alfazema. As rosas eram inacreditavelmente rubras.
Deus veio em minha direção segurando um lírio branco nas mãos, mas não soube me dizer onde ela estava enterrada.


Reinventa-nos oh Deus , Rocha mais Alta que eu, a perdida força."