terça-feira, 25 de maio de 2010

De Lembranças e perfumes...

Pela primeira vez emudeci diante de um cartão... batia a caneta sobre o papel... e o rascunho era sempre torto.
Fiquei ali... a página expirando... Rabisco um desenho a mão livre..
Pego outra folha.... fecho os olhos... respiro... 


Lembro do dia feito este...
e reviro gavetas.. abro e fecho diários...


A escrita da amiga firme... letra de professora.. redonda , perfeita... Contrastando com a minha... pequena de forma....matemática... Amizade assim não esvanece... ela fica ali... imortalizada... enquanto as vidas seguem separadas, desencontradas... a amizade vai pelo meio....


Cartas que nunca alcançaram seus destinos.. mas que durante muito tempo as mantive encerradas...
Ainda conservo uma ou duas...
Gosto sempre de correr os olhos nestas palavras do que era antes... pra não esquecer quem Eu sou... e o que Sou...


Dou de ombros para oportunistas...  Sempre tive paúra desta gente que vive a espreita... esgueirando... pra lá e pra cá... 
Antídoto contra veneno eu tenho...
Tenho palavra encantada... tenho verso no peito... 


Enquanto  A vida vai correndo , plácida como lagoa ao luar. 
Uma vida normal para uma pessoa normal... 
Trabalhava durante a semana, passava os fins de semana fora, visitava seus pais... arrumava sua casa... Abria todas as janelas.... 
Era invadida de ar fresco...
..."Até ao dia em que lhe foi diagnosticada uma doença mortal. "Prolongada", segundo alguns. "Crônica", diziam outros. 
Mas ninguém dizia o seu nome. 
Como se se tornasse menos mortal por isso.


 O tempo que restava era pouco, nunca é muito nestas situações. Nunca é suficiente.... 
 E iria sofrer, iria sofrer terrivelmente, diziam os entendidos.
Passado pesado espaço de introspecção, deu conta de um pequeno relevo por debaixo da camisa. Não... não estava ali antes. Devagar, abriu, botão a botão... e para seu espanto, um outro botão crescia do seu umbigo. 



Mas este era de rosa. Uma vistosa rosa desabrochou lentamente.
Não muito tempo passou para que de outras partes do seu corpo nascessem lindas flores vermelhas. 



Em vez de sofrer brotavam rosas, as suas dores eram flores que embelezavam o seu corpo, já de si quase coberto por pétalas cor escarlate.


Em vez de dor, em vez de lágrimas, um suave e doce perfume exalava destas pétalas sobre o corpo desta que sorria e fazia sorrir.
E foi assim com o passar do tempo. 

No dia em que morreu, todo ela era um jardim. "

Um comentário:

JPM disse...

Olá,
Bacana, veia elétrica, digo, poética!
Saúde e felicidade.
JPMetz