segunda-feira, 7 de junho de 2010

Distanciando-se de si mesmo...

Acordamos bem cedo.. parecia que ainda era noite... mas já não existia nenhuma estrela no céu.. 
Se observasse com cuidado era possível perceber... o azul do dia baixando devagar... 
E no desenho da estrada, fomos deixando preocupações e cansaço.


A ânsia de chegar acalma... e não inquieta. E no fundo do peito ia pousando a certeza...
... clara.. absoluta. 




As mãos dele escondendo as minhas... 


Não consigo dormir , mas ele tranquilo... fecha os olhos. Ainda com as minhas mãos entre as dele.
Abri na primeira página de um de meus livros prediletos.... mais uma vez.. 
E como aquelas linhas exerciam tanto poder sobre mim..
A história do rapaz muito amado ... Pressentia-se nele um sábio, um sacerdote, um príncipe.... Mas para si mesmo,  não tinha alegria. Para si mesmo não era fonte de prazer. Abrigava em seu coração o descontentamento. 
Sentia que o amor que recebia de todos nem sempre teria força para alegrá-lo.
 Também sentia que já tinha absorvido os principais ensinamentos , mas não eram suficientes. 
Questionava a validade dos rituais: “As abluções, por proveitosas que fossem, eram apenas água; não tiravam dele o pecado; não curavam a sede do espírito; não aliviavam a angústia do coração. Excelentes eram os sacrifícios e as invocações dos deuses- mas que lhe adiantava tudo isso? Propiciavam os sacrifícios a felicidade? .. E onde se podia encontrar , onde morava ele... a não ser no próprio eu, naquele âmago indestrutível que cada um trazia em si?” 
Insatisfeito com isso, ele se vai... pelo caminho.
Aprende a Jejuar, mas  Passando pelas cidades, olhava a vida nela com desprezo. “... nada disso era digno de ser olhado. Tudo era mentira, tudo fedor; tudo recendia a falsidade, tudo criava a ilusão de significado, felicidade, beleza e, todavia, não passava de putrefação oculta. 
Amargo era o sabor do mundo. A vida era um tormento”. 
O objetivo dele era tornar-se vazio, vazio de sede, vazio de desejos, vazio de alegria e de pesar. 
“Exterminar-se, distanciando-se de si mesmo; cessar de ser um eu”.
Quando se dá conta que aquilo era uma forma de fugir da vida e do eu. 
Então ele vai embora mais uma vez.
Até que muito triste mergulha dentro dele próprio.. perdido.. 
Sem fazer parte de nenhum grupo.






 Era seu desejo conhecer o sentido e a essência do eu, para desprender-se dele e superá-lo.
" Apenas logrei iludi-lo. Consegui, sim, fugir dele e furtar-me às suas vistas. Realmente, nada neste mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais, de ser ! E de coisa alguma sei menos do que sei quanto a mim!”
....
“O fato de eu não saber nada a meu próprio respeito, o fato de ter permanecido para mim um ser estranho, desconhecido, tem sua explicação numa única causa: tive medo de mim; fugi de mim mesmo! Procurei, procurei , sempre disposto a fraturar e a pelar o meu eu, a fim de encontrar no seu âmago ignoto o núcleo de todas as cascas. Mas, enquanto fazia isso, perdi-me a mim mesmo”.
....
“Olhou para o mundo a seu redor, como se o enxergasse pela primeira vez. Belo era o mundo! Era variado, era surpreendente e enigmático!
 Lá, o azul; acolá, o amarelo! O céu a flutuar e o rio a correr, o mato a eriçar-se e a serra também! Tudo lindo, tudo misterioso e mágico! E no centro disso tudo se achava ele, a caminho de si próprio...” “Não havia mais aquela multiplicidade absurda, casual, do mundo dos fenômenos, desprezada pelos profundos pensadores  , que rejeitam a multiplicidade e esforçam-se por achar a unidade...” “... O sentido e a essência das coisas não se achavam em algum lugar atrás das coisas, senão no seu interior”.
... “andei deveras surdo e insensível”...”Quem puser a decifrar um manuscrito, cujo significado lhe interessar, tampouco menosprezará os sinais e as letras, qualificando-os de ilusão... senão os lerá, estudá-los-á, amá-los-á, letra por letra. Eu, porém, que almejava ler o livro do mundo e o livro da minha própria existência, despreze os sinais e as letras, em prol de um significado que lhes atribuía de antemão. Chamei de ilusão o mundo dos fenômenos. Considerei meus olhos e minha língua apenas aparentes, casuais, desprovidas de valor. Ora, isso passou. Despertei. Despertei de fato. Nasci somente hoje.” 

Parei neste capítulo. Mais uma vez.E estava totalmente absorvida. 
Mais uma vez. 
O coração batia na garganta... e no canto dos olhos uma prece ia caindo devagar.
Era capaz de ouvir se quisesse , com clareza... Meu nome.
E minha oração ia enchendo a mente... os ouvidos.. o coração... 
Pensava em Deus com tanta força! Falava com ele com tanto amor!!
Precisava encontrar tantas respostas!!!

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