domingo, 4 de maio de 2014

O Pássaro

Noite enluarada de outono lá fora.
E sabia que mais nada conseguiria fazer se não dissesse as palavras que lhe insistiam o pensamento.
... AS primeiras flores de sua árvore surgiram... a maioria ainda brancas.. poucas já num tom avançado de rosa-fúcsia.

Era o castelo do passarinho que agora lhe habitava o peito.
Encantado, mágico... Azul como ele só.
E poderia escrever linhas e linhas pra falar só deste castelo..  construído de sonho, galhos e folhas, amor e flores encantadas que mudam de cor, com o nascer do sol. E do passarinho azul, que lá foi morar... e lá se pôs a cantar... a sua vida.
Mas não hoje.

Hoje, a menina só conseguia lembrar dos anos atrás.. do sonho e da certeza com que sonhava.
Agora o peito doía... doía o medo, doía o pensamento...

Quem já amou um pássaro??
Quem já amou um pássaro , sabe exatamente a doçura e o medo de amá-lo.

Frágil em sua pequenez... Imenso em sua doçura...
E ela fica ali parada, pensando que nenhum mal pode vir sobre ele... nada. É este o medo.  É este amor.
Que lhe calava a alma...  emudecia os lábios.
MAS que não lhe paralisava!!
.....

ERa dela este dom, este toque especial capaz de transformar tudo em conto de fadas...
Tinha aquele jeito enluarado... e mãos pequeninas capazes de imprimir poesia no dia mais comum... ..
Emprestava cores pro dia.
Espanava a poeira ... arrastava móveis... construía paisagens...

Jurava de pés juntos que se entristecesse era capaz de chover !!
Á todos que cruzavam seu caminho sorria uma cantiga... um mistério...

E quando fechava os olhos, seu maior temor era  uma vida vivida sem amor... sem poesia.
Tinha pavor de não ser ninguém nunca pra outro alguém...

... Porque afinal de contas, a gente vive para isto mesmo, para ser tudo para alguém um dia e para sempre... Oras!

TOdas as suas histórias, todos os seus contos... tudo que escrevera a vida inteira um dia desapareceu.
Se foi... como poeira.
Naquele dia sentiu como se toda sua vida tivesse sido roubada... assaltada... foi assim privada de suas alegrias, seus amores, dissabores, batalhas, tristezas...

O passado é esta coisinha que nem sempre nos faz bem... mas sempre queremos deixar ao lado... engavetado.. arquivado...

Mas enquanto olhava para página em branco à sua frente... e tinha aquela certeza feliz de que sua vida tinha começado daquele dia em diante...
... percebeu que a perda na verdade era ganho...

Não queria mais nada daquilo... não queria, por mais belos que fossem seus escritos, suas lembranças...

Porque tinha um pássaro dourado nas mãos...
... que tinha este poder, de fazer nova todas as coisas.
Todos os dias... tudo se fazia novo... e outra vez.

A menina e seu pássaro, a menina e seu sonho....
E além das cores que dispunha, agora existia canto...

E ela era Tudo pra este passarinho...
... nunca mais estaria só...
Se viu livre do seu maior temor !

E o que valia era agora... era dali por diante...
A menina e seu pássaro azul.

Sentia como se não existisse mais nada além.
Além daquele instante único e todo dela...

O azul do céu... as flores que pendiam do galho da sua árvore...
...o canto magnífico de seu pássaro...
........ as estrelas todas elas caindo devagar...

E Aquele anseio de repartir esperanças !

3 comentários:

Dra. Tormenta disse...

Que doçura, prima!
Suas palavras sempre tocam minha alma.

Beijos.

Alê Ferraz disse...

... e a minha também! :)

Marília Gabriela disse...

Lindas!

;)