quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mar e ilha , Setembro.

Foi numa madrugada destas de outono que ela nascera.
 Era páscoa E seu pai ainda noutro andar foi capaz de ouvir o choro dela. De algum jeito reconheceu a voz de sua filha que acabara de nascer.
A enfermeira a repousou nos braços da mãe achando graça, no choro da menina, que franzia a testa já com feições e expressões.
Ela imediatamente silenciou.
Assim que seu pai entrou no quarto e a viu, tirou do bolso um presente que se pensasse direito não poderia , mas o fez, uma jóia com o nome da menina, que ele já amava tanto.
A mãe desde este primeiro encontro, não a tirou dos braços mais... era um ciúmes sem tamanho.. que lhe amarrava a garganta ... apertava contra o peito..

Pra que se possa entender um pouco mais dela, da menina, é preciso contar sobre seus pais.
Porque algumas vezes, um amor que seria imposssível... Improvavel como um peixe que se apaixona por um pássaro... se faz real.... e este mesmo amor.. é daquele mesmo tipo, falado aqui... não cabe numa vida...
Ele explode; e quase isto mesmo aconteceu naquela manhã nublada numa praia qualquer...
... quando seu pai caminhando viu pela primeira vez a mãe da menina....
O vento forte, o dia cinza, a areia úmida... Foi assim que a tempestade se apaixonou pela montanha.
E assim ela nasceu.. a menina...

Nos seus cabelos e nos seus pés tinha ventania... Ela gostava de roda, de poesia pra poesia tecia suas histórias, e ensaiva seus passos.. pra vida que viria.
O sol se escondia e caia manso entre as ondas do cabelo... nas mãos sempre um perfume... Mas ela não tinha nome de flor.

Ainda muito menina  recostava no braço direito de seu pai pra dormir  e eles conversavam horas.. Acho que foi ele quem a ensinou a falar... ela não gostava muito .. mas um dia seu pai gravou tudo.. tudo tudo que eles diziam.. e fez uma surpresa...
Pegou o radinho... e tocou sua fita... aqueles olhos verdes sorriram sem entender... de quem era aquela voz iinha inhaa ... até sua mãe achou graça do susto da menina...
... Ela gostava de desenhar o que amava... pegava sua mão, e deslizava... pelo rosto de sua mãe... uma mão... depois a outra... ia desfazendo rugas... separando linhas... ela gosta mesmo era desenhar sorrisos...
TOda noite no braço do seu pai... um dia ele reparou... naquelas mãozinhas... e disse pra menina que ninguém, nem mesmo a chuva tinha mãos tão pequenas quanto as suas...

E a menina foi crescendo... entre o chão de terra batida.. do quintal ao chão muito vermelho encerado... muito encerado de sua mãe...
Era tudo encantado... de manhã... seres alados invadiam sua janela verde de folhas abertas... disfarçados de poeira... passavam todos , um à um por ela.. lhe beijavam a face... serenavam nos cabelos...
E o entardecer ... sempre chamava seu nome... corria pra fora... o sol caindo devagar à se despedir...
... e vagalumes queridos... de repente... assim.... pipocavam... reluziam...

Antes de qualquer estrela.. antes mesmo de seus pais... É que eles precisavam garantir que a menina estava segura... foi seu pai ... foi ele quem mandou...

Ela gostava de ficar ali... esperando... Enquanto esperava .. sonhava.. e enquanto sonhava ..conversava...
... com o limoeiro.. com o que via quando olhava pra cima...
Um dia ela , a menina se enamorou de um destes vagalumes... e saiu quintal a fora.. pisando pedras... tentando seguir aquela pequena luz... até que o pirilampo cansado da brincadeira foi ao encontro da menina...

Ele pousou suave... ela o repouso entre as suas mãos, com cuidado ela nem conseguiu fechar a palma da mão mt pequena... ela colocou uma sobre a outra.. e entrou ... abriu um lugar na sua gaveta de coisas bonita... colocou o bichinho ali... pra ele dormir... uma tampinha qualquer com água... e ficou matutando, o quê um vagalume gosta de comer?? ...

Quem sabe!!?

Naquela noite ela adormeceu cedo, de manhã quando correu e abriu sua gaveta... o bichinho estava lá, morto.
Os ombro pesaram e ela escorregou até o chão, ficou ali parada bem quietinha... pensando no que tinha feito... que horror ... ficou ali parada.
O coração pulava... pulava... até que sua mãe a encontrou... pegou a menina pela mão... e lhe falou:

_ Não fique triste!! FOi por amor!! Olha, Ventania, ele podia ter ido embora... ele podia ter escalado esta roupinha... e esta e esta pra ir embora... mas ele não foi!! _

Mesmo assim , os olhos da menina ficaram presos no chão. Ahh não gostava que ninguém a visse chorar...
Aquela tarde ela sentou no último degrau da porta de entrada de sua casa... e chorou.
Ela olhou bem pra cima e chorou... tão sentida.. que não percebeu quando foi o sol embora... quando a noite caiu...
... ela percebeu aquele silêncio todo ... que vivia... e fez frio... ela sentiu nos pézinhos descalços... nos braços... no nariz...
o céu estava todo nublado.. achou que era chuva... mas a chuva não veio... foi então , assim... de supetão...

Ela se levantou , e foi então que começou a chover ..... pedaçinhos e pedacinhos  minúsculos... tão pequenos  quanto suas mãos ... de papel....

Ela esticou os braços... abriu a palma das mãos... pegou os pedaçinhos que pôde... e entrou sorrindo.
Os guardou naquela gaveta... numa caixinha.... Achou mesmo que era seu .... aquela poeira... vinda sabe-se lá....

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