sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma menina com uma Flor....


Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, .....
Eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda cedo, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas
para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque
você quando sonha que eu estou passando você para
trás, transfere sua ddc para o meu cotidiano, e implica comigo
o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque quando você começou a gostar
de mim procurava saber por todos os modos sobre mim...

E porque você tem um rosto que está
sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima,
como uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata.
E porque você é uma menina
com uma flor, ...que encheu meu quarto de flores... de perfumes e amores...
 e desenha no meu rosto  com as pequenas pontas de seus dedos infantis....
...eu lhe predigo muitos anos de felicidade,
pelo menos até eu ficar velho:  de cabelos completamente brancos.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval;
E  porque você quando canta nem
um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um ursinho chamado  Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente  perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele  e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho.

E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos
foram feitos na primeira noite da Criação,
.... e você é capaz de ficar me olhando horas.
E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara na Vidraça, e quando eu olho você
muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e
cativou meu coração e adora , eu lhe peço que
me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço
também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último
mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a
perna cruzada triste e aquele olhar que não vê.

 E porque
você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu
escrevi uma canção tão bonita para você, “Minha namorada”,
a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não
morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse,
cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você
tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira,
no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou
vendo você subir agora — tão purinha entre as marias-sem-
-vergonha — a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas
montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e
o meu coração, como quando você me disse que me amava,
põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto
para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa
volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto
a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos
— eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de
todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aleia de um
jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de
mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a
sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre
cantos, súplicas e vociferações — porque você é linda,
porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina
com uma flor.

Que lindos são teus renovos... menina !

Um comentário:

Alê Ferraz disse...

Borboleta...

De repente, eu também quero. Uma flor.

Beijo minha poetisa querida!